sexta-feira, 14 de dezembro de 2007





Depois de conquistar fãs a rodo com seu CD de estréia, "Trouble", lançado em 2003, o senegalês Akon volta à cena com mais histórias sobre a sua jornada pessoal em seu segundo trabalho, "Konvicted". E se "Trouble" é uma ode de Akon à sua redenção (antes da carreira de cantor dar certo, ele ficou preso um tempo por roubo de carro), "Konvicted" já parte mesmo desse ponto de renascimento. Aliás, a missão dele neste exato momento é re-inventar a si mesmo através desse processo de salvamento muito pessoal que tem sido a música em sua vida.
Embora seu single "Locked Up" tenha lhe rendido credibilidade nas ruas, este segundo álbum está ainda melhor porque mostra muito mais da sensibilidade multifacetada de Akon. Em "Konvicted", ele mesmo produziu e escreveu todas as músicas, exceto uma. O disco traz faixas gravadas com Eminem (o primeiro single, "Smack That"), Snoop Dogg ("I Want to Love You") e Styles P. (que também estava em "Locked Up"). O disco se equilibra de forma perfeita entre uma certa dose de arrogância malandra, muita originalidade no trabalho feito em estúdio e ainda um bocado de bom senso para culminar, então, em um dos lançamentos mais honestos e genuínos de 2006.
"Smack That" é uma delícia que esbanja energia e que traz todos os ingredientes de um hit das pistas de dança, além de rimas agressivas disparadas por ninguém menos que aquela metralhadora ambulante chamada Eminem. Akon conheceu Em logo depois de seu trabalho com Obie Trice em "Snitch", e os dois acabaram ficando amigos. "Sabia que queria o Eminem nesta faixa, mas ele toma o maior cuidado com as participações especiais, para não aparecer demais, em tudo que é canto. Quando ele me ligou e disse que estava pronto para participar, eu achei aquilo uma benção. Entrei no primeiro vôo que havia pra Detroit para fazer a gravação acontecer" conta Akon.
Outra música de destaque em "Konvicted" é a faixa anti-gangsta "Runnin". Lembrando um pouco a sinceridade da lenda do soul Curtis Mayfield em sua trilha atemporal para o filme "Superfly", o som neo-blues de Akon fala sobre a luta que é cair fora do jogo: "I'm tired of running from the law".E, aqui, o irônico é que a melodia desta música foi composta quando Akon ainda estava atrás das grades. "Essa é uma música que você sente, porque ela é verdade pura" confessa Akon. "Eu vivi cada palavra que escrevi ali".
Na mesma tradição do pioneiro R. Kelly, Akon passeia na boa das histórias barra pesada para as pistas de dança passando até pelas baladas com seus versos sempre rápidos, naquela mistura bacana de cantar e rapear, enquanto ele coloca sua própria voz em várias camadas de cada canção, para ter ele mesmo fazendo o corinho por trás. "Meu objetivo não é glorificar a vida do crime, das ruas, mas a verdade é que os gangstas também são gente. Eles têm família e filhos, e eu só estou tentando jogar uma luzinha em cima disso. Não posso dizer às pessoas o que é certo ou errado, mas posso ser um exemplo".
E enquanto as letras escritas por Akon são pesadas, ele prova ser um inovador também em termos de produção. Ele não pensou duas vezes, por exemplo, na hora de incorporar elementos de música pop, tipo piano ao vivo e violinos, em sua balada "Never Took the Time", que é ficou mesmo campeã. "Quando componho, gosto de radicalizar musicalmente" revela Akon. "Mas, hoje, no mundo da música, são os produtores que vão além, em termos de diversidade de estilos".
Nascido em seu próprio estúdio, o Koncast Studios, em Atlanta, talvez a jóia máxima de "Konvicted" seja a faixa "Africa", que é um hino de percussão brava "dedicado à minha terra natal", com a poesia afiada de Akon discutindo coisas que vão da escravidão à cor da pele. "Um dos meus objetivos com esta música é fazer as pessoas mais conscientes sobre o que é o continente africano".
Com o brilhante trabalho de "Konvicted", esse cantor, compositor, produtor e dono de gravadora chamado Akon veio mais uma vez quebrar barreiras musicais ao mesmo tempo em que também define a sua importância enquanto soul man desse novo milênio. Aliás, "Konvicted" tem provado que Akon é que nem vinho: só fica mesmo é melhor com o passar do tempo.

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